domingo, 2 de fevereiro de 2014

Grafologia Como Ferramenta de Apoio em T&D

Publicado por  - quarta-feira 1 de setembro de 2010 - às 1:10


Uma das definições da Grafologia é “o estudo da letra com a finalidade de interpretar o caráter e a personalidade” e seu uso é bastante comum na Seleção de Pessoal e na Orientação Vocacional. Mas como ela pode ser útil à área de Treinamento & Desenvolvimento?

A grafia representa, segundo Frederico Kosin, a personalidade original e verdadeira do seu autor, não só pelo conteúdo mas pelo modo como é escrita. Ela é a expressão dos instintos, afetos, emoções e da inteligência.
Escrever é um dos atos mais importantes do ser humano. Foi projetando seu dia-a-dia, seus medos e anseios nas paredes das cavernas que o Homem começou a se expressar, exteriorizando sua personalidade.
A Grafologia é muito mais profunda do que comumente se imagina. Por exemplo, considera-se a letra um corpo no espaço e não uma superfície plana, porque ela tem três dimensões, ou seja, altura, largura e profundidade, a última representada pela pressão aplicada no papel e que é realmente mensurável com instrumentos adequados.
Ela surgiu em 1622 com Camilo Baldo de Bologna médico e professor italiano, mas apenas em 1871 ganhou maior rigor científico através da obra do Abade Jean Hippolite Michon, em Paris, e foi seu aluno, Jean Jaques Crépieux-Jamin que elevou a Grafologia a ciência de observação utilizável em estudos psicológicos da personalidade em 1930. Na verdade, ainda hoje é aplicada a classificação que ele criou procurando destacar as particularidades de cada grafismo com base em sete gêneros: forma, dimensão, direção, pressão, velocidade, continuidade e disposição.
À partir de 1930, foi introduzida a Psicanálise e o simbolismo do espaço gráfico na interpretação da escrita recorrendo-se às teorias de Jung e de Freud.
É a Psicóloga e Grafóloga Maria Lúcia Mandruzato, diretora da MLM Performance Empresarial que conta sobre a história da Grafologia no Brasil: “A primeira pessoa de que se tem notícia que tomou contato com a Grafologia aqui no Brasil foi o médico baiano Costa Pinto em 1900. Ele desenvolveu uma tese de doutorado sobre “Grafologia e Medicina Legal” que até hoje está disponível em bibliotecas. Já os responsáveis pela introdução da Grafologia nas empresas foram os laboratórios farmacêuticos, as multinacionais européias que vieram para o Brasil aproximadamente em 1970 e que tinham como política a utilização da Grafologia nos processos de seleção de pessoal. Como não existiam grafólogos aqui no Brasil elas mandavam para a Matriz fazer a análise.”
Paralelamente a isso, começaram a haver intercâmbios tanto de pessoas que vinham da Europa, após a 2a guerra mundial, inclusive imigrantes e que conheciam o assunto como também alguns brasileiros que começaram a ir para lá e tomar contato com a Grafologia. “No Brasil,” diz Maria Lucia, “a primeira pessoa que teve contato com o assunto foi o Dr. Júlio Gouveia médico psiquiatra. Na minha percepção, eu noto que por volta de 1986 foi que começou a haver um maior interesse das empresas de um modo geral aqui no Brasil.”
Segundo Maria Lúcia, A fundamentação teórica da Grafologia se baseia na premissa de que a escrita nasce no cérebro. “Ela é estimulada no “palladium”, passa por toda a parte de neurônios e tem a ajuda dos músculos, então ela é fruto de neurônios e músculos, por isso a escrita leva a pessoa a se projetar plenamente a nível emocional, psicológico, fisiológico e estético.”
“Se parte do princípio também de que a partir do momento que a pessoa foi alfabetizada ela passa a escrever de forma inconsciente e a linguagem do inconsciente é o símbolo. Então, À medida que a pessoa está escrevendo, ela está colocando, simbolicamente sua forma de ser e de agir, seu potencial (latente ou não), suas frustrações e desejos, suas ambições, como ela age e reage no dia-a dia, etc.”
Existe uma correlação, segundo Maria Lúcia, entre testes como o Palográfico, o PMK, o Zulliger e o Wartegg e a Grafologia embora estes sejam menos abrangentes em relação à ela por que fornecem apenas traços especificamente ligados à personalidade enquanto a Grafologia é mais do que um teste projetivo. ” Através da análise grafológica é possível identificar aspectos intelectuais, que tipo de raciocínio a pessoa usa mais: o intuitivo ou o lógico e também habilidades que a pessoa possa ter: Fluência verbal, memória para números, visual, perceptiva, habilidades para aprender novos idiomas, habilidade manual, atenção concentrada, entre outras.”
É importante lembrar que cada característica de personalidade revelada na letra é somente um indício e não pode ser considerada isoladamente ou como representando a soma total da personalidade que está sendo analisada. Um sinal ocasional pode, por exemplo, ser exatamente isto: uma ocasional tendência para uma característica particular. Cada sinal gráfico não pode ser avaliado de maneira fixa, estável, porque é resultante de um conjunto complexo de tendências, devendo ser avaliado em relação às dominantes da grafia.
O trabalho do(a) grafólogo(a) divide-se em duas atividades principais: Procurar encontrar, por observações minuciosas, as expressões gráficas involuntárias que acompanham o ato de escrever nas diferenças da forma normal e escolar e apurar a significação das expressões individuais na grafia.
Um(a) grafólogo(a) consciente terá também em mente que a análise deve ser circunstancial, isto é, ela reflete sempre as circunstâncias de vida pela qual a pessoa está passando por ocasião da escrita e isso deve ser considerado sendo possível fazê-lo por que a Grafologia permite identificar o que é traço constitucional e o que é traço de caráter adquirido durante o processo de socialização e que tem influência do meio. Por exemplo, é possível identificar se a pessoa está com uma fadiga momentânea ou se ela é realmente depressiva.
Em termos de aplicações, a Grafologia, pode ser utilizada nas seguintes áreas: Na criminologia para identificar falsificações, é onde, aliás, ela é mais usada; para tratamento psicoterápico com o objetivo de diagnosticar problemas e fazer acompanhamentos; na Medicina também como ferramenta de diagnóstico e acompanhamento pós-operatório uma vez que a escrita projeta aspectos fisiológicos; Algumas empresas têm utilizado para verificar a idoneidade do solicitante para liberação de crédito; para orientação matrimonial na verificação de compatibilidades e afinidades; como Grafoterapia buscando promover mudanças interiores utilizando-se a auto-sugestão como recurso; para orientação vocacional; e em Recursos Humanos. E aqui nos interessa aprofundar um pouco mais a aplicabilidade da Grafologia.
Sua aplicação no Sub-sistema de Recrutamento & Seleção de Pessoal já é vastamente conhecida. Embora pouco se tenha explorado sua utilização no Acompanhamento de Plano de Carreira, por exemplo, verificando as reais habilidades gerenciais ou de qualquer outra espécie antes de decidir-se pela promoção e/ou transferência de funcionários. Para fazer um planejamento de carreira é necessário identificar-se o potencial latente de cada funcionário e a Grafologia permite que isso seja averiguado.
Utiliza-se também para fazer correções de desvio de desempenho. “São aqueles casos”, explica Maria Lúcia, “onde a pessoa tem excelente competência técnica mas apresenta desvios no comportamento gerencial e na hora da Avaliação de Desempenho isto acaba aparecendo. Comumente a empresa não quer dispor dessa pessoa então deseja verificar que desvio é esse, que tipo de traço é esse. Esse desvio pode ser alterado? De que forma se pode corrigi-lo?”
Outra forma importante é que as empresas têm percebido que se o funcionário busca um trabalho de auto-conhecimento ele tem maiores possibilidades de se desenvolver. E a Grafologia permite um excelente trabalho de auto-conhecimento.
Em identificação de necessidades de treinamento, aplicando a Grafologia num Grupo de gerentes ou funcionários de um modo geral, pode-se obter um perfil dos pontos fortes e fracos daquele grupo, direcionando-os para os devidos treinamentos de reforço e capitalização dos aspectos positivos até para retificação dos aspectos negativos, ou direcioná-los ainda, para treinamentos comportamentais específicos que se apliquem na correção dos pontos fracos.
Maria Lúcia chama a atenção para o fato de que “a Grafologia vem sendo sub-utilizada na medida em que culturalmente quem mais a utiliza é realmente a Seleção que faz o laudo e acaba por arquivá-lo de modo que ele deixa de ser utilizado pelos demais sub-sistemas de Recursos Humanos como fonte de informações valiosas para toda a forma de acompanhamento de um funcionário, isto é, a informação não circula em todas as áreas da empresa, porque, inclusive, existe ainda uma visão meio estanque das coisas…”
Ainda sobre as aplicações em Treinamento & Desenvolvimento, a Grafologia informa qual é o estilo predominante num determinado corpo gerencial, por exemplo se há uma predominância do autoritarismo ou se de um estilo mais aberto e participativo que permita a formação de melhores times de trabalho, ou ainda se num determinado grupo existe espírito de cooperação ou se prevalece o espírito de competição.
Pode-se também identificar o Clima Organizacional através de estudos grafológicos, percebendo se há grupos de pessoas não-transparentes, dissimuladas e com tendências a provocar intrigas, porque começa-se a perceber a fundo como cada pessoa age no âmbito profissional.
As vantagens da Grafologia em relação a outros métodos são: a facilidade de aplicação. Para fazer a análise tudo de que se precisa é de uma caneta e uma folha de papel com mais ou menos 20 a 25 linhas escritas mais a assinatura no final da redação, enquanto no testes tradicionais são necessários formulários específicos; a pessoa não precisa estar presente para que a análise seja feita. Uma pessoa, na filial de uma empresa pode orientar o analisando na confecção da redação e depois enviá-la para a matriz onde será elaborado o laudo por um técnico habilitado sendo devolvido para as devidas necessidades e providências, como, aliás, faziam as multinacionais que se instalaram no Brasil. Nos testes convencionais há a necessidade de um aplicador especializado cronometrando, pontuando, etc.
O tempo é outra vantagem. Tanto o de duração da aplicação, ou seja da redação, quanto da avaliação da escrita. Uma pessoa leva em torno de 30 a 40 minutos para escrever o texto necessário e mais ou menos 2 horas para avaliá-lo em profundidade dependendo, é claro, da habilidade e da familiaridade do técnico com a “ferramenta”. Para a aplicação de uma bateria de testes convencionais são necessárias quase 3 horas apenas na aplicação, sem levar em conta o tempo de avaliação, para ter o mesmo nível de informações que a Grafologia oferece nestes 30 a 40 minutos.
Pode-se aproveitar plenamente a redação, direcionando o tema de modo que tanto a forma, estudo grafológico, quanto o conteúdo possam ser avaliados.
Ainda existem preconceitos em torno da utilização da Grafologia a despeito do fato de termos empresas do porte da ITEC (joint venture IBM-Itaú), Merck Indústrias Químicas, SESI, Carborundun (multinacional americana), Grupo Pão-de-Açucar, Credicard, Lactea Aparelhos Científicos e Eletrônicos, entre outras, obtendo excelentes resultados. Entretanto, como tudo que vem de encontro ao Paradigma Holistico, é apenas uma questão de tempo…

GRAFOLOGIA / Edneia Villalobos Em Grafologia: Sua origem e aplicação no recrutamento e seleção, Edneia Villalobos  oferece ao leitor ...